
No outro dia uma amiga, Marinilda, mostrou-me umas fotos bem comuns, de álbum de família, feitas por uma Yashica muito caseira. Ainda doente, febril do filme, mal olhei as fotos. Pedi a Yashica emprestada, comprei três filmes preto-e-branco e à noite fui para um cabaré do porto onde costumava ouvir bandas de rock e , com sorte, a canja de algum famoso de passagem. Câmera na mão, dois filmes no bolso, nenhuma técnica na cabeça, nervoso como em toda primeira vez. Mesmo sem coragem para nada, obscuramente sabia que naquela Yashica, naqueles filmes, estava segurando uma vida. Sai tarde, sem apertar o botão.
No ponto do ônibus, já amanhecia quando uma das moças do cabaré passou e desafiou: -Quer fotografar, é? Quer fotografar? Pois então fotografa aqui! – Levantou a saia e mostrou o sexo.
"Foi minha primeira foto. "
Assim é que, com o relançamento de TERRABRASIL (em junho de 2001), completo 30 anos de pura fotografia. Eu só queria ser jornalista, quem sabe escritor, homem de palavras. Mas numa noite, à meia-noite, fui salvo, ou condenado, por um filme japonês, numa sessão maldita. Entram também na história uma puta no cais, um urubu na calçada, uma mãe-de-fogo nas serras…
* "Texto extraído do depoimento de Carlos Moraes sobre o fotógrafo Araquém Alcântara, presente no site oficial do fotógrafo." - [ http://www.araquem.com.br ]












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